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No início da década
de 20, no século XX, chegava a Patos um casal campinense: Absalão Emerenciano e
Domila Emerenciano de Araújo, trazendo consigo uma criança, filha de retirantes
e conhecida apenas por Francisca. A menina lhes fora dada, em uma das maiores
secas da história, como única forma encontrada por seus pais de livrá-la da
fome que assolava as famílias nômades, as quais viviam em um verdadeiro estado
de miséria.
Absalão teria a
missão de manter em funcionamento o equipamento que fornecia iluminação noturna
à cidade. Sua esposa, por sinal uma bela mulher, trazia consigo um gênio forte
e desumano, transformando a criança em presa fácil, explorada no trabalho e
submetida a constantes seções de tortura. Se por um lado não concordava, o
homem do motor da luz aceitava as referidas práticas e, aos poucos, a tragédia
passava a ser apenas uma questão de tempo.
Em 10 de outubro, de 1923, por volta das 18h, cumprindo uma
trajetória diária, Domila saiu de casa e seguiu ao encontro do esposo,
determinando à inocente que após lavar a louça fosse dormir. Atraída pela
algazarra das crianças, a pobre menina, após cumprir a tarefa, abre a janela e
fica a contemplar as brincadeiras. O sono bate e, displicentemente, deita
esquecendo-se de fechar a janela, o que seria o álibi de Domila, para
espancá-la de forma brutal, utilizando-se da trave de madeira usada como
taramela, culminado com o massacre.
Com o crime, em plena madrugada, é traçado o plano de desova
e a distorção da verdade. Absalão buscava um meio de livrar-se do corpo da
menina, contratando uma viagem no caminhão de Zé Vicente, cujo motorista era
conhecido como Hindu e morava na mesma artéria. Francisca era levada em saco de
estopa e foi jogada no sítio Trapiá. No dia seguinte, enquanto Domila espalhava
que Francisca havia desaparecido, o esposo encenava uma procura frustrada.
Em 13 de outubro, o agricultor Inácio Lázaro, se depara com
os restos mortais da menina Francisca. Tratou de registrar o fato junto ao
delegado Antônio Fragoso, que substituía o titular Vicente Jansen, o qual
determinou a transferência do cadáver até a delegacia onde foi feito o
reconhecimento e logo após o enterro. A essas alturas, os boatos na cidade já
não deixavam nenhuma dúvida quanto à autoria do assassinato de Francisca, que
teve entre outros ferimentos o crânio fraturado e um dos braços quebrados.
Protegido por grandes nomes da política o casal não chegou a
ser preso, mas não suportando a revolta popular teve que se transferir para a
cidade de Campina Grande.
No local onde encontrou o corpo da criança, o rurícola
fincou uma cruz de madeira, a qual passou a servir de orientação. As pessoas
que por ali passavam mantendo uma tradição religiosa, rezavam em sufrágio da
alma da inocente.
Certo dia, o agricultor José Justino do Nascimento,
meditando sobre a grande seca que abalava a região, resolveu endereçar um
pedido a Deus por intermédio da pequena “mártir”. Bem próximo do local, cavou
uma cacimba e encontrou água suficiente para salvar o seu rebando. Como
pagamento da promessa construiu uma capela em memória de Francisca, a qual foi
inaugurada em 25 de abril de 1929.
Com a conclusão da igrejinha começava a romaria que mais
tarde seria o ponto de maior convergência de peregrinos e fiéis do estado da
Paraíba. Entre os possíveis milagres atribuídos à Menina Francisca o mais
surpreendente foi narrado por um americano que veio a Patos trazendo uma
réplica dos seus pés, na época em que sofria de uma grave doença. Dona Odília,
moradora do sítio Trapiá, que zelou a capela por mais de 50 anos, sempre
contava o fato com muita emoção. Segundo ela, “este cidadão dos Estados Unidos,
havia sonhado com a criança, informando que a sua cura estaria em Patos e para
tanto bastaria que através da fé prometesse que levaria o devoto até o local.
Pacto firmado, graça alcançada e promessa paga”.
Somente 11 anos
depois do crime, graças a determinação do juiz Luis Beltrão, que desengavetou o
processo e mandou que os dois fossem presos em Campina Grande, aconteceu o
primeiro julgamento do casal, no dia 15 de junho de 1934, com a absolvição. Em
24 de outubro, o casal voltou ao banco dos réus e a decisão anterior se repetiu,
provocando mais um pedido de anulação pela acusação. Finalmente, o último júri
em 05 de junho de 1935. Mesmo sendo inocentado pela justiça, o casal jamais foi
perdoado pela população.
Décadas depois de inaugurada a capela, a estrutura já não
chegava a comportar os devotos, provindos de todos os pontos do Brasil, como
testemunhos das mais diversas graças alcançadas. Começava então uma batalha
pela concretização de um projeto amplo, capaz de abrigar não apenas a
religiosidade, como também o aspecto turístico, com a consequente geração de
divisas. O então deputado federal Edvaldo Motta comprou a briga com o Estado
para a edificação do parque, o que só veio a ser concretizado no governo de
Ronaldo Cunha Lima. Em 24 de outubro de 1993 a obra foi entregue a cidade, com
duas ausências por demais lamentadas: Dona Odília, que dedicou sua vida a
antiga construção e o parlamentar que mais trabalhou pela consolidação. Os dois
já haviam falecido.
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